Discursos e Intervenções

Discurso proferido pelo Comandante-em-chefe Fidel Castro Ruz na velada solene para resumir os atos de Comemoração da Vitória do povo cubano em Praia Giron (Baía dos Porcos), efetuada no teatro Chaplin, em 19 de abril de 1964

Data: 

19/04/1964

 

Companheiros das Forças Armadas Revolucionárias;

Companheiras e companheiros revolucionários:

Completamos hoje o terceiro aniversário da vitória de Praia Girón (Baía dos Porcos). Esta data ganha cada dia mais, ou se mostra, cada dia mais, perante nossos olhos, em sua dimensão real. Não só significou a primeira agressão imperialista a um povo da América Latina, não só significou o primeiro ato de barbárie dos imperialistas ianques, sua primeira selvajaria, seu primeiro ato intervencionista; muitas agressões, intervenções, selvajarias e crimes têm sido cometidos contra povos irmãos de América Latina. São muito poucos os povos deste continente que não sabem o que é a intervenção, a pirataria, o filibusteirismo e a agressão dos ianques, começando por Porto Rico, país latino-americano ao qual converteram em uma colônia.

Praia Girón significou a primeira derrota do imperialismo ianque na América Latina e — como disse, recentemente, o companheiro Guevara (APLAUSOS) —  “a primeira, mas não a última”. Novas derrotas receberão os imperialistas; as receberão em nossa terra, caso nos agredirem e as receberão em outras terras, pelas mãos de outros povos aos quais escravizam.

Até esse dia tinham agido com absoluta impunidade, até esse dia se sentiam com direito a desprezar os povos da América Latina, até esse dia talvez subestimassem nossos povos da América Latina.

A agressão imperialista de Praia Girón demonstrou muitas coisas, mas demonstrou, entre outras, que a Organização dos Estados Americanos (OEA) era um instrumento de dominação e de colonização imperialista, um instrumento dócil nas mãos do Departamento de Estado.

Quando nosso país foi criminalmente agredido, bombardeado com aviões procedentes de diferentes bases centro-americanas, invadido por forças mercenárias escoltadas — além de armadas — pelo governo dos Estados Unidos, nosso país teve que enfrentar aquele ataque, com seu sacrifício e com seu sangue. Os Estados Unidos, o governo daquele país, nem sequer recebeu uma recriminação.

Poucos meses mais tarde, essa mesma Organização que nem sequer teve uma palavra de reproche contra aquele criminal atentado, expulsou Cuba, o país agredido, o país vítima, do seio da Organização dos Estados Americanos. Isso nos ensinou que frente ao imperialismo esses organismos — instrumentos desse mesmo imperialismo — eram absolutamente inúteis, e que não servem a outros interesses que os interesses dos inimigos dos povos.

Já passaram três anos. Aquela vitória custou a nosso povo um elevado número de vidas, vidas de trabalhadores, de camponeses, de soldados, vidas de civis, quer dizer, que tivemos que pagar um preço alto. Mas, isso queria dizer que depois daquele ataque devíamos ficar de braços cruzados? Que depois daquele ataque nos teriam de deixar em paz? Não! Os planos agressivos continuaram adiante. Os imperialistas ianques não se resignavam àquela derrota e começaram a idear novos planos de agressão.

Foi necessário o fortalecimento militar de nosso país, foi necessário tomar medidas para estar em condições de defender-nos. E sobreveio então a Crise de Outubro.

Desde há cinco anos, desde o triunfo mesmo da Revolução, nosso país não teve paz. Durante cinco anos temos vindo a sofrer agressões de tipo econômicas, políticas e militares; durante cinco anos temos padecido invasões do tipo de Girón, sabotagens como a do navio “La Coubre”, incêndios como o da loja “El Encanto”, introdução em nosso país de armas, explosivos, agentes de todo o tipo, organização de bandos contrarrevolucionários que cometeram infinidade de crimes contra camponeses, contra professores, contra membros das brigadas de alfabetização.

E, enfim, a história destes cinco anos de Revolução, é a história de um povo se defendendo contra esse inimigo; é a história das agressões do imperialismo ianque contra nosso país, de um povo que teve que defender sua obra incessantemente, que não somente teve que pagar um preço alto de sangue para derrocar a tirania implantada por esses mesmos interesses, armada por esse mesmo imperialismo, mas que teve que continuar pagando, e o teremos que continuar pagando quem sabe quanto tempo.

Nosso povo, sem abrir mão um só instante de sua defesa, teve que enfrentar-se ao bloqueio econômico; teve que enfrentar-se a todos os obstáculos que um país poderoso e rico, de grandes influências imperiais, tem imposto em nosso caminho; teve que reconstruir sua economia e levar adiante seus planos em todas as ordens, sempre com uma espada pairando sobre nossas cabeças: a espada da agressão imperialista.

E nessas condições nosso país tem avançado. Nessas condições levou adiante seus planos, seus planos de educação, seus planos de saúde, seus planos de desenvolvimento econômico com o povo, com os homens e mulheres mais humildes do povo, sofrendo não já todas as agressões de que temos falado, mas também, inclusive, a pirataria de nossos técnicos.

Porque não se detendo perante nenhum meio, tentaram, inclusive, deixar nosso país até sem médicos, sem engenheiros, sem técnicos universitários; tentaram criar todas as condições, as piores condições, para fazer fracassar uma Revolução; mas uma Revolução não é fácil de fazer fracassar, uma Revolução não é fácil de vencer, e eles não nos conseguiram vencer! (APLAUSOS), não nos puderam vencer simplesmente, porque esta é uma verdadeira Revolução! (APLAUSOS.) Se esta tivesse sido uma Revolução a meias, nos teriam vencido; se esta tivesse sido uma Revolução tímida e covarde, uma Revolução de vacilantes, eles nos teriam vencido. E, contudo, não nos conseguiram vencer, nem nos poderão vencer! (APLAUSOS.) E deste país se poderá dizer: “Antes será varrido do mapa do que vencido!” (APLAUSOS PROLONGADOS).

E falo assim, falo assim, porque entendo que devemos ter o espírito alerta, o ânimo firme, e a vontade de luta determinada; falo assim porque ainda estamos avançando e ainda estamos na luta contra esse imperialismo; falo assim porque ainda pairam muitas ameaças e muitos perigos sobre nosso país. E hoje, hoje que lembramos aqueles que morreram de forma gloriosa e valente defendendo sua terra, sua bandeira, sua causa, suas ideias, é preciso falar assim (APLAUSOS PROLONGADOS); é preciso falar claramente, é preciso expressar nitidamente a verdade. E é preciso dizer aos companheiros de nossos batalhões, de nossas companhias, de nossos locais de trabalho, que morreram nesse dia, é preciso dizer-lhes que não somente os lembramos com a palavra e que quando lhes prestamos homenagem não é uma simples homenagem lírica, mas dizemos àqueles que morreram que os demais também estamos dispostos a morrer (APLAUSOS).

Dos nossos mortos, dos combatentes revolucionários, não nos despedimos nunca com um adeus, mas em uma Revolução, em meio da luta, é preciso dizer-lhes quando mais até logo, até logo, companheiros que deram suas vidas, que nós também ofereceremos nossas vidas nessa mesma luta; que nós não vivemos para desfrutar o sacrifício dos que deram tudo, mas sim para defender a qualquer preço os frutos desse sacrifício!

E passados três anos, quando a reação imperialista levanta a cabeça em todo o continente, três anos depois de Girón, quando a política do governo imperialista de Estados Unidos é cada vez mais e mais agressiva, quando a política do governo de Estados Unidos é cada vez mais e mais abertamente reacionária e intervencionista, é necessário dar todo o valor e toda a importância que tem esta data e falar claramente.

Porque se reacionários foram os que nos atacaram em Girón, estes que governam hoje Estados Unidos são ainda mais reacionários.

Já transcorreram alguns meses depois que galgou o governo dos Estados Unidos um senhor do faroeste norte-americano, em decorrência do assassinato ainda estranho e misterioso do anterior presidente, vítima sem dúvida dos elementos da extrema direita. E já se perfila com toda a nitidez qual é a política deste novo presidente.

E eis os fatos. Surge uma disputa interna na Bolívia, e o senhor Johnson rapidamente oferece tropas para resolver um problema interno da Bolívia.  Surge um problema no Panamá e os soldados ianques disparam, de forma desapiedada, contra o povo panamenho. E o senhor Johnson, intransigentemente, soberbamente, declara que não está disposto a fazer a menor concessão, que não está disposto a discutir nenhuma negociação ou nenhuma mudança nos acordos, em virtude dos quais os Estados Unidos possuem aquele canal, fruto de sua pirataria nos primeiros tempos, nos primeiros anos deste século.

O golpe de Estado brasileiro tem lugar, mas com uma coordenação perfeita entre as campanhas de imprensa dos jornais mais reacionários dos Estados Unidos, golpe evidentemente forjado e planejado pelo Pentágono e pelo Departamento de Estado; e às poucas horas da quartelada, o alento do imperialismo, a mensagem de adesão do senhor Johnson ao golpe de Estado militar do Brasil. Ocorre o golpe de Estado, e imediatamente depois o senhor Falcón Briceño, representante do governo fantoche da Venezuela, sai a percorrer as capitais da América Latina, em uma manobra contra nosso país, promovendo a agressão contra nosso país. Tem lugar o golpe de Estado do Brasil, e imediatamente o governo de Panamá se vê obrigado, por pressão dos Estados Unidos, a reatar as relações diplomáticas; e aos poucos dias de se terem reatado essas relações, sem nenhum compromisso por parte dos Estados Unidos de rever o Tratado do Canal, aos poucos dias, para pressionar mais uma vez o governo do Panamá, anunciam que estão em estudo planos para construir outro canal pela Colômbia ou outro canal pela Costa Rica.

Estes fatos concatenados, característicos, indicam, descrevem e definem a política do atual governo dos Estados Unidos.

Falando da América Latina, não falando já do Vietnã, não já falando de sua conduta em outros países e em outros continentes; mas já depois que designassem um senhor chamado Thomas Mann no Departamento de Estado para os Assuntos de América Latina, um senhor que era conhecidamente reacionário e arquiinimigo de nossa Revolução, já se sabia quais eram as intenções dos Estados Unidos para com a América Latina.

Durante um tempo depois da Revolução Cubana, e não imediatamente depois, mas dois anos depois do triunfo da Revolução Cubana, o governo dos Estados Unidos começou a falar de planos de ajuda à América Latina, começou a falar da “Aliança para o Progresso”, começou a falar de reformas sociais. Certamente que nunca nos Estados Unidos se tinha falado em Reforma Agrária para os países da América Latina, nem de reformas de nenhum tipo; mas depois que teve lugar a Revolução Cubana, o medo que inspirou a Revolução Cubana fez com que pela primeira vez em toda sua história de país imperialista, pela primeira vez, começaram a falar de reformas sociais tais como a Reforma Agrária, Planos Educativos, Reformas Tributárias; começam a falar de que há enormes massas de camponeses sem terra e que isso era combustível para a Revolução. E então certos elementos chamados “liberais”, que tinham certa influência na anterior administração, idearam toda aquela coisa da Aliança para o Progresso.

Certamente que aquilo era simplesmente um ardil, um engano aos povos da América Latina, um unguento para tratar de curar o câncer da miséria neste continente, que no fundo não tinha outro propósito que consolidar o domínio econômico e político dos Estados Unidos sobre a América Latina.

Mas mudavam a linguagem: falavam da Aliança para o Progresso e falavam de reformas. É claro que aquela aliança não progredia, não avançava nem podia avançar. No fundo, esses elementos chamados “liberais” dos Estados Unidos diziam serem a favor de uma política de aliança com as chamadas “classes médias” da América Latina, sacrificando os interesses das oligarquias latifundiárias que têm sido a classe social governante na maior parte dos povos de América Latina.

O governo dos Estados Unidos tentava aliar-se a essa “classe média”, que em alguns países nem sequer existe; falavam de uma política contra os golpes de Estado reacionários, falavam de uma política a favor do que eles chamam de “democracia representativa”. Quer dizer, que insinuavam que era interesse dos Estados Unidos, abrirem mão de sua aliança com as oligarquias e com os gorilas e desenvolver movimentos pseudodemocráticos, de caráter civil e com algumas reformas sociais, sacrificando os interesses das oligarquias latifundiárias.

Descreviam ou insinuavam sua política mais ou menos nesses termos. Mas ocorria que, constantemente, tinham lugar golpes de Estado, ocorria que nesses governos pseudo-democráticos, no Peru, ou no Equador, ou em Honduras, ou na Argentina, os gorilas, alentados pelo Pentágono tomavam o poder, sempre lançando mão do argumento, do argumento do anticomunismo; inclusive presidentes como Frondizi, que eram instrumentos servis do imperialismo, foram derrocados, alegando que era necessário restabelecer a ordem, que era necessário evitar o perigo comunista. E o mesmo ocorreu no Equador, e ocorreu em Honduras, e ocorreu no Peru. E então o Departamento de Estado norte-americano ficava em uma situação um pouco embaraçosa.  Não é que esses senhores sejam uns senhores que não estejam acostumados a essas situações contraditórias e embaraçosas, mas tinham lugar esses golpes de Estado e então a política deles era dizer que não os reconheciam imediatamente, esperar um tempo.

Esqueci-me do caso de Santo Domingo, onde tinha sido eleito presidente Juan Bosch, que foi depois derrocado pelos gorilas. E como tudo isso estava em contradição com a filosofia ou pseudofilosofia da chamada Aliança para o Progresso, os que fazem a política dos Estados Unidos estavam em uma situação embaraçosa. Em geral, esperavam um tempinho, algumas semanas e alguns meses e imediatamente depois, sob um pretexto ou sob outro, reconheciam os governos nascidos dos golpes de Estado contra seus aliados porque, definitivamente, era uma luta entre aliados: os aliados, chamados “democrático-representativos” e os gorilas, ambos aliados do imperialismo.

Mas quando teve lugar a morte de Kennedy, ao parecer — embora este senhor dissesse que ia continuar a mesma política, etecétera, etecétera, etecétera — parece ser que aqueles elementos chamados “liberais”, que na época de Kennedy tiveram alguma influência, foram afastados. E as verdadeiras intenções dos Estados Unidos se revelaram após a designação de Tomas Mann a cargo dos assuntos latino-americanos.

Claro que essa política não ia mudar imediatamente, de repente, mas tudo indica que a influência que chegaram a ter no governo dos Estados Unidos esses chamados “elementos liberais” tem sido eliminada por completo, e tem sido substituída por uma política do pior estilo reacionário. Quer dizer, que os Estados Unidos voltam à época de sua política de aliança com os setores mais reacionários, sua política de apoio aos governos de mão dura, de origem “castrense”; sua política de apoio aos setores mais reacionários; uma política que tira a máscara do pseudoliberalismo, tira a máscara de pseudodemocrata e se associa aos gorilas e aos elementos mais reacionários; uma política de colonização sem dissimulo algum; uma política reacionária da pior espécie.

E os fatos do Brasil demonstram isso: dizer que Goulart era comunista é realmente o cúmulo. O presidente destituído do Brasil tratava de realizar uma série de reformas sociais, dessas mesmas reformas que hipocritamente defendiam os propugnadores da Aliança para o Progresso.

Brasil é um país enorme, cuja população cresce extraordinariamente, e é um país saqueado pelos monopólios ianques. Goulart não fez uma Reforma Agrária como a nossa, estabeleceu certas medidas imprescindíveis para evitar a saída de divisas do país. Não é que proibisse a saída de divisas, mas limitava os ganhos que podiam extrair os monopólios norte-americanos; não é que fizesse uma lei contra o latifúndio, mas fez uma lei contra os latifúndios que estavam à beira das estradas; não é que nacionalizasse as empresas ianques, nacionalizou algumas empresas de serviços públicos e algumas empresas petroleiras.

Contudo, o presidente Goulart foi derrocado por um golpe de tipo reacionário, um de cujos principais cérebros foi o homem mais reacionário deste continente, um senhor que, inclusive, como solução ao problema da mendicidade no estado do Rio de Janeiro onde é governador, como solução propugnava a eliminação física dos pedintes, que é lógico que ali abundem como em todo país subdesenvolvido e explorado; um senhor de mentalidade fascista, o governador do Estado de Guanabara, Lacerda, “ou a porca”, como o queiram chamar.

E esses elementos, aliados aos elementos reacionários das Forças Armadas, levaram adiante o plano golpista ideado pelo Pentágono e pelo Departamento de Estado ianque. E é preciso dizer claramente estas coisas, custe o que custar. Se os imperialistas pensam que nós vamos calar-nos nossas opiniões sobre esse golpe de Estado estão muito enganados.

O que temos que fazer é denunciar a natureza desse movimento, o que temos que fazer é denunciar os propósitos desse movimento. E esse golpe de Estado não foi somente um golpe contra o Brasil, foi um golpe contra o continente, foi um golpe, certamente, que faz parte da estratégia em longo prazo do imperialismo contra Cuba, foi um golpe não somente contra o Brasil, mas também contra Cuba. Mas não foi um golpe somente contra a Cuba socialista e revolucionária, foi um golpe contra o movimento democrático, não já o movimento esquerdista, não já o movimento socialista, não já o movimento comunista. Não, foi um golpe, inclusive, contra as forças progressistas, não socialistas e não comunistas!

Foi um golpe contra o movimento democrático no Chile, país que preocupa muito ao imperialismo ianque, país respeito ao qual têm grandes temores, não o temor de uma revolução como a cubana, não, temor ao resultado de umas eleições; o temor a uma fórmula democrática no Chile. É um golpe contra o movimento democrático na Argentina, é um golpe contra o movimento democrático no México, pois como é conhecido, dois dos países que defenderam firmemente a política de não intervenção e o direito de autodeterminação foram o Brasil e o México.

O golpe de Estado, dirigido não somente contra o Brasil, mas contra o movimento democrático no continente tinha como objetivo suprimir um dos pilares dessa política, suprimir uma das resistências principais aos planos intervencionistas, não somente contra Cuba, mas também contra os panamenhos e contra qualquer país da América Latina, e por isso para os imperialistas era fundamental derrocar o governo brasileiro, não um governo socialista nem muito menos, mas um governo que mantinha uma política internacional independente, e que resistia firmemente os planos de intervenção dos Estados Unidos contra Cuba e contra outros povos de América Latina.

Imediatamente começaram os telexes imperialistas das agências imperialistas a dizer que agora sim o Brasil romperia com Cuba, a publicar declarações do senhor Lacerda e de outros elementos reacionários dizendo que iam romper com Cuba, a publicar declarações de elementos golpistas, dizendo que iam romper com Cuba; jubilosas as agências de notícias ianques, jubilosos os elementos reacionários, encorajados e pensando, talvez, que nos intimidavam com estas coisas, que nos deprimiam; que agora sim, que agora que um país grande e influente como o Brasil ia ser a favor da política de intervenção e de agressões, agora que o Brasil caía nas mãos dos gorilas e dos fascistas, agora podiam cair sobre Cuba e que Cuba ia ficar assustada.

É possível que pensem que nós estamos aqui tremendo, quando falam de que vão romper relações conosco, e que isso facilita as agressões contra Cuba. É que estes senhores imperialistas pensam que o problema se resolve na OEA, em conspirações, em votações, e que aqui as pessoas não vão lutar (APLAUSOS). Estão esquecendo uma coisa, estão esquecendo que quando eles tenham feito sua conspiração, sua manobra, não é quando se resolve o problema, é quando começa, e esquecem que o problema de Cuba não se resolve nem com gorilas nem com conspirações, que quando chegue a hora de liquidar a Revolução vão ter que lutar contra nós (APLAUSOS).

E então já isso é farinha de outro saco, já isso é farinha de outro saco, porque nós ficamos impassíveis, imutáveis diante dessas ameaças, desses acordos da OEA, dessas manobras, com todas essas coisas, não nos incomodam, não nos incomodam. Porque o que fazemos é melhorar a pontaria (APLAUSOS), e prontificar-nos, prontificar-nos; não seja que os imperialistas, não seja que os imperialistas pensem que nos vão intimidar; não seja que pensem que estamos muito assustados. Em Girón já aconteceu isso com eles, pode ser que, caso não escarmentarem, possa acontecer-lhes um Girón multiplicado por cem (APLAUSOS).

Porque vale dizer aqui, vale dizer aqui, que nós, os revolucionários cubanos, os comandantes de nossas forças (APLAUSOS), não vão ficar contando, tal como fazem alguns generais que há por aí, que primeiro contam quantos soldados tem o inimigo, para decidir se lutam ou não lutam (APLAUSOS); alguns generais que há por aí que resolvem as batalhas contando: Quanto você tem?... Tanto... Pois eu tenho tantos... Venceu! E o exército revolucionário não se fez assim, porque em um dado momento se podia perguntar quantos tinha e sobravam dedos nas mãos; e quantos eram os inimigos, nem se podiam contar. Toda a história da Revolução é a história de um povo se defendendo contra inimigos superiores em número.

Assim foi a guerra, nossa guerra toda. Muitas vezes nós tínhamos que resistir um batalhão e não tínhamos mais do que uma esquadra para resistir um batalhão. E nós não contamos os inimigos na hora de combater (APLAUSOS). Porque a esses inimigos nós podemos dizer-lhes também aquilo que disseram os espartanos, quando os chefes persas lhes advertiram “que suas flechas escureceriam o sol”. E eles responderam: “Melhor, com isso combateremos à sombra” (APLAUSOS).

Por isso, nós não temos medo de que os imperialistas sejam muitos, que os imperialistas organizem uma aliança de todas as forças reacionárias contra Cuba. Os acontecimentos no Brasil não nos incomodam. Falam com júbilo de que vão romper. Bem: nós não vamos começar a chorar um dia depois desse rompimento. Não vamos implorar essas relações e não imploramos relações com “gorilas” de nenhuma classe (APLAUSOS). E somos um povo consequente com sua história, consequente com seus princípios e, sobretudo, lembramos que depois do dia 10 de março, veio o 26 de Julho (APLAUSOS).

Nosso povo, que é um povo armado; nossas Forças Armadas, que são Forças Armadas do povo, não são parecidas absolutamente em nada com essas forças armadas que organizam os imperialistas para que lhes sirvam de instrumento. Nossas Forças Armadas, que nasceram na luta revolucionária, que nasceram das classes humildes do povo, são o braço armado desse povo contra esse imperialismo. Não é preciso esquecer que temos umas Forças Armadas Revolucionárias, porque antes combatemos e dissolvemos as forças armadas que aqui, como em outras partes do continente, serviam aos interesses dos imperialistas. E esse é nosso exército, essa é nossa Marinha, essa é nossa aviação. Assim são nossas unidades de combate, assim é nosso povo.

Porque os imperialistas, no caso da Revolução Cubana, têm pela frente um povo armado.

E uma coisa boa que têm nossas Forças Armadas, e é que não têm generais (RISOS) e que a patente mais alta é a patente de comandante. Os imperialistas aqui não terão que lutar contra esses generais, têm que lutar contra outro tipo de homem, contra outro tipo de militares muito diferentes e, sobretudo, não têm generais na frente, desses que contam; têm gente que conta, sim, quantas balas leva no carregador.

E nossas Forças Armadas já não são somente um exército com espírito guerrilheiro, mas Forças Armadas com uma grande disciplina, cuja capacidade técnica aumenta dia a dia e bem armadas, bem armadas, e que sabem manipular essas armas (APLAUSOS), e que as saberão manipular cada vez mais (APLAUSOS); e que sabem que não temos essas armas aqui de adorno (APLAUSOS), que as temos para usá-las quando seja necessário, sem vacilação de nenhuma classe.

Porque é bom dizer isto, é bom dizer isto, é necessário dizer isto, porque os imperialistas se enganam, os imperialistas em geral — com essa mentalidade fascista de superhomens — imaginam os povos da América Latina como povos desprezíveis, povos híbridos, que não lutam, que não combatem; sentem um profundo desprezo por nossos povos, desprezo que começou a ser posto a prova depois do triunfo da Revolução Cubana, e sobretudo depois de Praia Girón. Estes imperialistas vivem de gângsteres no mundo, de capangas, de valentões, pensam que alguém tem medo deles e, inclusive, confundem a prudência com o medo, o sentido da responsabilidade e da calma.

Vou explicar-lhes por que digo isto. Aqui trago uma comunicação enviada de Oriente pelo companheiro chefe da Segurança nessa província, na qual informa sobre uma série de provocações inusitadas que tiveram lugar no dia de ontem na Base Naval de Guantánamo. E vou ler a comunicação textualmente, tal como chegou a nós:

“Assunto: Sobre provocações de fuzileiros ianques na porta terrestre da Base Naval norte-americana”.

“Respeitosamente, aos efeitos de seu superior conhecimento, quero informar o seguinte:”

“a) Às 18h00 do dia de ontem dois fuzileiros de plantão na porta ianque e o que age como intérprete agridem nossos soldados com pedras, quando estes se encontravam arriando nossa bandeira nacional, recebendo uma pedrada em um braço um de nossos companheiros. Os fuzileiros cruzaram a linha divisória uns três metros.

“b) Sendo as 18h30 (hora de ontem) chegou à porta ianque um cabo e um soldado tomando bebidas alcoólicas e oferecendo aos fuzileiros ianques que estavam de plantão, os quais aceitaram o convite.

“c) Sendo as 18h50 (de ontem) chegou à porta terrestre um carro com dois exilados, os quais traziam bebida alcoólica e a deram aos fuzileiros que estavam de plantão na porta.

“d) Sendo as 19h40 chegou à porta um carro com uma exilada, a que permaneceu na guarita americana uns cinco minutos, retirando-se depois dali com um marinheiro ianque que age como intérprete, internando-se em um matagal próximo, saindo minutos mais tarde.

“e) Sendo as 20h40 (do dia de ontem) dois exilados trazem bebidas alcoólicas aos fuzileiros ianques que se encontram na porta.

“f) Sendo as 21h35 (do dia de ontem) oito fuzileiros cruzaram a linha divisória chegando até nossa casinha, urinando um deles na haste de nossa bandeira, enquanto os outros arrancavam várias plantas e as levaram para o território, bem como o ancinho de recolher o lixo; estes fuzileiros também soltaram a corda de nossa bandeira, deixando-a solta, enquanto os outros agrediram nossos soldados com pedras, e algumas dessas pedras alvejaram nossos companheiros.

“g) Sendo as 23h00 (do dia de ontem) os referidos fuzileiros cruzaram a linha divisória passando para nossas guaritas, ao mesmo tempo que agrediam nossos soldados com pedras. Estes fuzileiros ianques, utilizando um fuzil Garand e uma picareta romperam a porta de nossa guarita que dá para o lado direito, outros chegaram até as traseiras da guarita, derramando um tanque de tinta nossa que se encontrava aberto e cinco fuzileiros começaram a dar golpes para tentar romper uma porta da referida guarita, o que não puderam realizar devido a que a mesma é de ferro, mas provocaram algum dano. O sargento-chefe do destacamento do Batalhão da Fronteira teve que retirar os soldados para uns 20 metros do edifício, já que os fuzileiros cruzaram das referidas guaritas em direção à casinha dos registros, bem como o sargento teve que retirar o telefone, já que como os fuzileiros entraram na guarita o podiam levar ou romper. No total, os fuzileiros romperam duas portas do referido edifício.

“h) Sendo a meia-noite de hoje, os fuzileiros ianques cruzaram a linha divisória e entraram dentro de nossa guarita, levando a mangueira que se encontrava no banheiro, enquanto jogavam pedras aos nossos soldados.

“i) Sendo a meia-noite e 35 minutos de hoje um fuzileiro ianque cruzou a linha divisória com um Garand na mão, o qual carregava e apontava para nossos soldados.

“j) O fuzileiro ianque que age como intérprete, antes de se retirar da porta terrestre houve de gritar aos nossos soldados que para hoje domingo o que iam fazer os faria tremer.

“Com relação a estas provocações, informa-se que têm sido as de maior magnitude ocorridas na porta terrestre da Base Naval. Que é quanto tenho que informar até o momento”.

Estas provocações, deste tipo, desta natureza, por grupos, não pode ser uma coisa casual, não pode ser uma coisa isolada; estas provocações que transcorrem durante horas, não podem ser ações de soldados indisciplinados, nem de soldados bêbados: coisas dos chefes e com conhecimento do governo de Estados Unidos. Por quê? Porque desde há muito tempo eles têm cometido infinidade de provocações, de violações, de fustigação. E recentemente, quando o Governo Revolucionário de Cuba apresentou um protesto por causa destas provocações, o Departamento de Estado — com um cinismo inaudito, com essa falta de vergonha que o caracteriza — respondeu que o que tinham podido investigar era falso e que essas provocações quem as faziam eram nossos soldados.

E como nossos soldados nunca jogaram uma pedra, como nossos soldados ali têm instruções muito precisas de não se deixarem provocar, como são soldados muito escolhidos e muito disciplinados e o governo dos Estados Unidos não pode ignorar o que fazem ali seus soldados, se o governo dos Estados Unidos responde isso, com esse cinismo, é que essas provocações são provocações deliberadas e com o conhecimento do governo dos Estados Unidos.

O que pretendem com isso os imperialistas? Estão testando, provando para ver se estamos deprimidos, se estamos atemorizados? Pois nós advertimos seriamente ao governo dos Estados Unidos que está brincando com a vida desses provocadores (APLAUSOS).

Será que o governo dos Estados Unidos está planejando uma provocação para realizar uma agressão a partir da Base? Lembramo-lhes Girón, e lhes recordamos a Crise de Outubro e os perigos que a irresponsabilidade dos Estados Unidos tem ocasionado à humanidade.

Nós vamos denunciar estes fatos nas Nações Unidas, vamos denunciá-los; mas vamos expor aqui o que pensamos e como pensamos. Certamente que estes fatos, mais uma vez, nos dão a nós toda a razão quando, na altura da Crise de Outubro nós expusemos estes problemas e nós expusemos nossos Cinco Pontos (APLAUSOS). Já passaram dois anos e os imperialistas realizam provocações cada vez maiores; já passaram dois anos e os imperialistas continuam violando nosso espaço aéreo descaradamente, ilegalmente, arbitrariamente; já passaram dois anos — algo mais de dois anos — e não podemos dizer que tenhamos paz, não podemos dizer que as tensões e os perigos tenham diminuído. Não, nestas condições, não.

Nós vamos denunciar estes fatos às Nações Unidas, nós vamos advertir à opinião pública mundial para que se saiba a verdade, para que o governo de Estados Unidos saiba que sobre ele recai a responsabilidade do que possa ocorrer. Sobre quem recai a responsabilidade acerca de seus atos agressivos, suas provocações e as violações de nosso espaço aéreo? Porque nós não a temos autorizado, não a temos convalidado e não a legalizaremos, não legalizaremos essas violações a nossa lei e a nossa soberania! (APLAUSOS).

Estão provocando-nos; estas coisas são simplesmente intoleráveis. Vamos manter a calma, vamos manter a calma; vamos agir com duas coisas: não somente com inteligência, mas também com valor. Temos de agir dessa forma. Nem só com inteligência nem só com valor. Como deve agir nosso povo? Com as duas coisas: com inteligência e com valor (APLAUSOS). Ao valor, ao valor não lhe faltará a inteligência; e à inteligência não lhe faltará o valor.

E nossos soldados ali têm resistido com pé firme, porque têm instruções de não deixar-se provocar. Mas os homens nossos que estão ali, a esses bêbedos loirinhos, bem os podem pôr do outro lado da linha com uns quantos pontapés pelas traseiras (APLAUSOS E EXCLAMAÇÕES DE: “Fidel, seguro, aos ianques mais duro!” e outros lemas revolucionários).

As ordens que têm nossos soldados ali, até este instante, é suportar com pé firme sem deixar-se provocar. Mas nós advertimos aos imperialistas que a prudência tem um limite e que a serenidade tem um limite e que há limites que não se podem transgredir, há limites que não se podem transgredir e estão transgredindo perigosamente esses limites.

Vou dizer com o coração o que eu penso, o que sinto, e o que entendo que pensa e sente este povo. Nós não queremos guerra, nós queremos a paz, a queremos sinceramente.

Na guerra se perdem vidas, se perdem homens, traz muita dor a guerra e muita destruição. Nós amamos o que estamos fazendo: nossa Revolução; amamos o que estamos criando: o fruto de nosso trabalho, que desejamos que um dia fosse o fruto de nosso povo; desejamos ver um dia graduados nas universidades essas dezenas de milhares de jovens que estão hoje nas escolas, centros de ensino pré-universitários, tecnológico; desejamos um dia ver realizados nossos sonhos em todas as ordens. E que nosso povo recolha algum dia os frutos de seu trabalho. Amamos isso extraordinariamente, sonhamos com isso, dizemos isso com o coração. Os homens têm lutado e têm caído por isso, as revoluções se têm feito para isso.

Mas isso acarreta riscos; não teríamos corrido esses riscos quando éramos escravos, quando éramos colônia dominada pelo imperialismo, quando um grupinho reduzido de privilegiados tinha tudo, quando nosso povo trabalhava como escravo para os monopólios ianques, quando os homens negros eram tratados como cães, quando os camponeses tinham fome e miséria de todo o tipo, naquele mundo de privilégios, de injustiças, de abusos, de ignorância.  Aquela sociedade não acarretava estes riscos, mas nós não nos conformávamos com aquilo; temos querido para nossa pátria outra coisa. Mas não é que a tenhamos querido nós sozinhos: desde o primeiro homem que deu seu sangue por esta terra quis isso, e nós queremos o mesmo que quiseram todos os homens que ao longo de um século têm derramado o sangue e se têm sacrificado por esta terra. E isso acarreta riscos.

Triunfou o povo, triunfou sua Revolução. Somos donos de nosso destino. Mal ou bem, com mais ou menos capacidade, com o que dispõe, com os escassos recursos materiais e técnicos de que dispõe, nosso povo avança, e com grandes sacrifícios realiza esta obra. Um enorme número de homens de magnífica qualidade foi tirado da produção para manter defendida a pátria, e em guarda contra seus inimigos; nosso povo faz grandes sacrifícios por isto, os tem feito, os está fazendo.

E por isso queremos isto. Não queremos destruição, não queremos morte, não queremos luto. Amamos extraordinariamente esta obra. Sim, devemos dizê-lo, confessá-lo, expressá-lo, e dizê-lo pelo que vamos dizer também agora: que apesar de que amamos a Revolução e apesar de que almejamos ver um dia convertidos em realidade nossos sonhos, se o preço que é preciso pagar por isso são estas provocações, se o preço que é preciso pagar por isso é ter que ajoelhar-se, sacrificar nossa dignidade e nossa vergonha e nossa honra e nossa vida de povo digno; se a paz é essa paz miserável, não queremos essa paz! (APLAUSOS PROLONGADOS).

Nenhuma teoria, nenhuma doutrina, nenhum princípio revolucionário nos obriga a suportar isso; nenhuma teoria, nenhum princípio. Somos revolucionários, mas ser revolucionário implica estar disposto a pagar o preço que seja necessário para ser revolucionário. Desejar um mundo melhor implica estar disposto a pagar o preço que seja necessário para isso. E antes que essa paz miserável, é preferível cem vezes a paz digna da sepultura! (APLAUSOS), a paz digna daqueles que morreram em Praia Girón! (APLAUSOS).

E digo isto para que os imperialistas saibam, para que o mundo saiba que não estamos dispostos a tolerar certas coisas que vão mais além dos limites admissíveis e toleráveis. Porque antes preferimos desaparecer como Revolução, como povo e até como ilha geograficamente (APLAUSOS PROLONGADOS).

E é bom que os imperialistas saibam isso, e saibam com o que se vão deparar, saibam o que vão achar. Se o que querem é provocar uma guerra, provocar um problema, vão arranjar esse problema, mas o vão arranjar talvez mais sério do que imaginam! (APLAUSOS). E se o que eles querem é varrer esta ilha do mapa, pois que se prontifiquem a varrê-la, que antes seremos varridos do que baixar a cabeça altiva desta nação, digna desta nação, heróica desta nação!

Se os imperialistas pensam que com a chantagem desavergonhada, com a exibição de seu poderio nos vão intimidar, nós lhes dizemos que todo poderio tem um limite e esse limite é ali onde não há medo, é ali onde termina o medo.  Esse é o limite de qualquer poderio! Mas nós devemos dizer aqui, com toda a seriedade e com toda a responsabilidade, que não toleraremos estas coisas.

Vamos dar a conhecer isto ao mundo, vamos denunciar isto nos organismos onde tenhamos que denunciá-lo, mas advertimos que tanto estas provocações como as demais violações de nossos direitos, não já bloqueios econômicos: as agressões físicas contra nosso território nós não estamos dispostos a tolerá-las, custe o que custar e aconteça o que acontecer! (APLAUSOS PROLONGADOS).

Nosso país é um país que está disposto a falar de paz com quem for, nosso país é um país que está disposto a falar de paz, mas que também está disposto a responder como tenha que responder frente às coisas que não seja possível tolerar!

Por isso, companheiros das Forças Armadas Revolucionárias, é preciso preparar-se, é preciso aperfeiçoar-se, é preciso dobrar o interesse na aprendizagem e na manipulação das armas que nós temos, de nossas unidades, de nossas tropas; é preciso fortalecer nossa capacidade técnica e nossa capacidade moral para o combate. Porque quando dizemos combate, combate é combater até a última bala e o último homem; quando dizemos preparar-se é preparar-se para qualquer contingência de qualquer tipo, em qualquer circunstância (APLAUSOS), a manipular as armas e manipular os homens. E quando estejamos aprendendo a manipulação das armas, pensar que infelizmente tenhamos que usá-las defendendo a pátria talvez; que não são debalde os esforços nem os sacrifícios que faz o povo.

Mas se o inimigo nos agride, saiba com o que se vai deparar; se o inimigo nos agride, lhe custe bem cara sua agressão; que se o inimigo nos agride, tenha que lutar contra homens de tamanho espírito e de tamanha coragem, que lhe demonstre de uma vez e para sempre o que é um povo digno, o que é um povo revolucionário. Que tenha que pagar com dezenas e com centenas de milhares de vidas qualquer ataque a nossa Pátria! Esse deve ser nosso espírito e essa deve ser nossa decisão.

Sim, estamos trabalhando pelo porvir e desejamos a paz. Desejamos colher um dia os frutos de nosso esforço, e não devem desalentar-nos estes riscos no trabalho criador; o revolucionário trabalha para o amanhã sem importar-lhe que chegue ou não a ver esse amanhã. Porque os que avançaram frente às hordas mercenárias que nos invadiram em Girón, os que foram ali à morte, lutavam por um ideal, por uma causa; eles não perguntavam se iam ver essa causa. Tal como os que na guerra morreram antes do triunfo, não perguntavam se iam ver o triunfo. E nós não temos que fazer-nos essa pergunta.

Trabalhar pelo futuro, mas estar sempre dispostos a sacrificar tudo por esse futuro, tudo, por defender o direito a ter esse futuro. Porque é preciso defender não somente esse futuro pelo qual se trabalha, mas o direito de tê-lo. E temos que defender nosso direito a ter esse futuro com o que seja, a qualquer preço. E assim agiremos.

Não nos desalentaremos. Continuaremos trabalhando em nossos planos econômicos, mas continuaremos fortalecendo nossa defesa. Continuaremos enamorados de nosso trabalho, mas continuaremos sempre determinados em dar tudo pelo direito a esse trabalho e pelo direito a levar bem alta a testa de um povo digno.

O tamanho de um povo não importa, o valor de um povo é o que importa (APLAUSOS), a honra de um povo, a vergonha de um povo! Nós temos mais valor, mais honra e mais vergonha que todos os imperialistas juntos e que todos os generais do Pentágono juntos (APLAUSOS).

Assim pensamos e assim entendemos o que pensa o povo. E assim agiremos e correremos os riscos que seja necessário correr. E que nossos inimigos saibam isso! Sem vacilação de nenhuma índole. E essas coisas não as toleraremos. Ao valor — repito — não lhe faltará a inteligência. Temos que agir com inteligência, temos que agir com muita inteligência; mas à inteligência não faltará o valor, e haverá valor demais, quando as circunstâncias o exijam, para apoiar nossa determinação e nossa conduta.

Primeiro é preciso advertir o mundo, primeiro é preciso demonstrar ao mundo a irresponsabilidade dos imperialistas, a atitude dos imperialistas, para que a história indique quem é o responsável pelo que possa acontecer, para que o mundo inteiro saiba de quem há de ser a responsabilidade do que possa acontecer.

Vamos estar prontos, companheiros, preparemos nossas unidades de combate e preparemos nossas forças de mar, de ar, de terra, preparemos nossos mísseis terra-ar! (APLAUSOS). E que sejam os imperialistas os que determinem. Se querem paz com nosso povo, haverá paz: Mas se querem guerra, não temos medo da guerra! (APLAUSOS E EXCLAMAÇÕES DE:  “¡Venceremos!”) Não nos incomodaremos nem vacilaremos perante os riscos que sejam necessários! Assim pensamos e assim pensa o povo, assim sente o povo.

Amamos a vida, mas não vacilamos em arriscar a vida e em sacrificar a vida, porque, mais do que a vida, amamos nossa causa, amamos nossa Pátria, amamos nossas ideias. E ademais, não concebemos a vida de outra maneira; vida indigna, vida miserável, não é vida. Viver em correntes e opróbrios sumidos não é viver! E isso é o que diz nosso Hino, e isso é o que jamais conseguirão de nós os imperialistas, com todo seu poderio; jamais conseguirão afundar-nos na humilhação nem no opróbrio.

E ao pensarmos assim, estamos prestando aos nossos mortos a mais digna homenagem, aos que morreram em Girón, aos que morreram nas lutas contra os bandidos, aos que morreram na luta contra a tirania, aos que morreram na luta contra Gerardo Machado, aos que morreram em nossas guerras de independência. E assim seremos dignos deles.

E somente os povos que têm valor, decisão e consciência para lutar por seus direitos, para lutar por sua felicidade, têm direito a desfrutar dessa felicidade, a desfrutar desse porvir. E esse direito nós o temos ganhado e o temos defendido e o defenderemos a qualquer preço.

Somos a primeira Revolução Socialista neste continente, a primeira, e o dizemos com muito orgulho! (APLAUSOS.) Somos a vanguarda deste continente, o primeiro país sem analfabetos deste continente, o pequeno país que ficará à cabeça da técnica, da cultura e do progresso entre os povos deste continente. Ninguém duvide; o esforço que tem sido feito nestes cinco anos, os progressos que se conseguiram nos garantem o porvir. E os imperialistas sabem disso: não pode haver progresso em nenhum povo com 60, com 70, com 80% de analfabetos; o problema da abundância não é somente um problema de ter instrumentos de trabalho, mas de ter capacidade para manipular esses instrumentos de trabalho, de ter técnica. E em meio das dificuldades, das agressões, do bloqueio, temos avançado extraordinariamente na preparação técnica e cultural de nosso povo, sem isso não há progresso.

Nós em paz, nosso povo em paz, no decurso de pouquíssimos anos é incrível o que poderia fazer. E os imperialistas sabem disso; daí seu ódio contra a Revolução, daí seu ódio contra nosso povo. Porque nosso povo é um exemplo e querem destruir esse exemplo; mas no afã de destruir esse exemplo pode ser que este exemplo se multiplique por mil, pode ser que este exemplo se multiplique por um milhão; porque exemplo, exemplo de verdade, exemplo que inflama, é o de um povo combatendo por sua liberdade, um povo combatendo e morrendo por sua liberdade, por sua causa, por suas ideias! E querendo destruir o exemplo, não seria nada estranho que os imperialistas multiplicassem por mil este exemplo.

Somos e seremos um exemplo. E a fé depositada em nós pelos povos explorados deste continente, inclusive de outros continentes, essa fé não a defraudaremos jamais, porque não se baseia em uma mentira, nem se baseia em uma farsa, mas se baseia em uma realidade. Essa esperança, essa confiança depositada em nosso povo, perante nenhum perigo, em nenhuma hora, em nenhuma circunstância será defraudada! (APLAUSOS).

É meu dever, um dia como hoje, expor estas ideias, expor estes sentimentos, expor esta decisão. E assim, do mais profundo de nossos corações podemos dizer com orgulho, com legítimo orgulho, com lealdade verdadeira aos nossos mortos: Vivam nossos heróis! (EXCLAMACI0NES DE: “Vivam!”)

“Vivam eternamente os que morreram combatendo em Girón! (EXCLAMAÇÕES DE: “Vivam!”) Seremos fiéis ao seu exemplo, fiéis à sua memória!”

Pátria ou Morte!

Venceremos!

(OVAÇÃO)

Versões Estenográficas – Conselho de Estado